Falsas memórias e a ilusão de confiabilidade no depoimento humano
O sistema de justiça ainda trata a memória humana como se fosse um “arquivo” perfeito.
Não é. Nunca foi.
Do ponto de vista da Neurociência, a memória não grava fatos — ela reconstrói.
Cada recordação é uma nova edição do mesmo evento, influenciada por emoções, perguntas, expectativas, vieses e pelo próprio funcionamento do cérebro.
E é aí que o Neurolaw entra.
Quando um juiz, promotor ou advogado assume que alguém “se lembra exatamente do que aconteceu”, comete um erro epistemológico sério.
A neurociência já demonstrou que:
• memórias podem ser implantadas
• detalhes podem ser criadas pelo cérebro
• perguntas sugestivas alteram a lembrança
• a repetição solidifica narrativas falsas
• o cérebro preenche lacunas sem perceber
Não se trata de mentira — trata-se de fisiologia cerebral.
A confiança absoluta na prova testemunhal é uma ilusão jurídica.
E essa ilusão produz condenações injustas, reconhecimentos falhos e narrativas que jamais ocorreram.
O Neurolaw não “romantiza” a memória: ele a questiona.
E, ao fazer isso, aponta para um ponto crucial: nenhum sistema de justiça pode ser sério ignorando como o cérebro realmente funcion